Um idoso fez um pedido inusitado para quando morresse aos familiares: ele desejava que o enterro fosse uma festa. Joaquim Silva da Rosa, de 60 anos, morreu no sábado (27) esfaqueado após uma discussão em Chapecó. Os filhos decidiram fazer a vontade do pai e realizaram um velório com música, churrasco e chope no domingo (28), em Coronel Freitas, no Oeste catarinense.
A cerimônia foi realizada na capela mortuária da funerária Aschidamini e contou com a presença de um churrasqueiro. A despedida durou 24 horas.
“Ele pediu. Se não tivesse pedido, nós jamais teríamos feito algo parecido. Perguntei para os meus outros irmãos o que eles achavam. Porque meu pai sempre gostou de bebedeira, ‘fuzarca’ [bagunça] e era uma cara muito querido por todos”, explicou Paulo da Rosa, que é um dos filhos da vítima.
Velório
Joaquim morava em Chapecó, mesma região, e deixou três filhos. O idoso estava separado da mãe de Paulo há 18 anos.
“Todos que entravam para ver ele no caixão eu já avisava para pegar um copo de chope, porque meu pai queria que entrasse no velório bebendo. Alguns recusavam, mas nós brincávamos que se não bebesse meu pai puxaria o pé dele à noite. Teve muitas pessoas que ficaram ressabiadas. Mas a vida inteira ele foi festeiro, várias pessoas acharam certo o que fizemos. A gente não se arrepende”, afirma.
Paulo afirma que a morte do pai foi trágica e que ele não teve chance de defesa.
“Eu pensei em não fazer a homenagem para ele, porque foi uma morte brutal. Mas como ele a vida inteira sempre falou que no velório dele não queria que ninguém chorasse, que era só para comer carne, dar risada e tomar cerveja e chope. E que fizesse festa. Ele sempre achava que o ser humano tem que chorar pela pessoa que está viva e não depois que morre”, afirmou.
A proprietária da funerária, Patrícia Aschidamini, afirmou que em 50 anos de trabalho não havia feito um velório acompanhado da festividade. A organização da homenagem foi realizada pelo Paulo e a empresa ficou responsável pelos trâmites tradicionais do enterro, como a preparação do corpo.
“Primeira vez que realizamos um velório diferente assim. A gente ficou em um primeiro momento [chocados], mas como era o último pedido dele resolvemos fazer. Na hora não acreditamos, foi algo inédito, mas resolvemos atender o desejo dele”, disse o filho.
Paulo afirma que ele e os irmãos compartilham da mesma visão sobre a morte com o pai. “Se um dia falecermos não vai ser chorado no velório. É festa. Nada de choro. Temos que chorar e se abraçar enquanto a pessoa está viva. Depois que morrer não adianta”.
Por Carolina Fernandes e Catarina Duarte, G1 SC e NSC