Lúcia Viera acompanhou o marido, Altair Gonçalves Pereira, de 41 anos, na caçamba de uma caminhonete até o hospital em Chapecó, no Oeste de Santa Catarina, na segunda-feira (22). Com diagnóstico de Covid-19, ele estava com dificuldades de respirar e foi levado com um cilindro de oxigênio comprado pela própria família. O cabelereiro segue internado na enfermaria do Hospital Regional com quadro estável.
“Ninguém queira passar o que nós passamos naquele momento ali, vendo ele passar mal e não ter uma ambulância para socorrer”, disse a mulher.
Segundo Lúcia, Altair foi levado até o posto de saúde justamente por causa da dificuldade de respirar, após piora no quadro de saúde. Ele foi diagnosticado com coronavírus há cerca de uma semana e estava em casa.
No posto de saúde, o médico pediu que o homem fosse transferido para o Hospital Regional do Oeste. No entanto, após duas horas de espera, a ambulância solicitada não chegou, segundo a família, que resolveu voltar para casa e improvisou a transferência. Como o oxigênio não coube dentro do carro, ele foi na carroceria.
“Chegamos em casa e veio a irmã dele com a caminhonete, que foi o nosso socorro. Tentamos levar ele sem o oxigênio, mas tivemos que voltar, porque faltou ar e ele disse que não ia aguentar. Colocamos um colchão em cima da caminhonete e conseguimos chegar até lá [hospital] com ele para socorrer”, disse Lúcia.
A prefeitura de Chapecó informou que era necessário abrir uma vaga e que durante a tentativa de transferência com ambulância, a família decidiu levar o paciente.
O cilindro de oxigênio que aparece na imagem foi comprado pela família de Altair. A assessoria do Hospital Regional do Oeste, informou que não passa o estado de saúde dos pacientes, mas confirmou que o homem está internado na unidade. Segundo a mulher, Altair está sob cuidados médicos e se recuperando.
Aumento do uso de oxigênio em SC
Os hospitais em Santa Catarina ainda não registraram desabastecimento de oxigênio, mas alertam que a crescente demanda pode prejudicar os estoques no estado. Isso porque, grande parte dos pacientes com Covid-19 que dão entrada nas enfermarias precisam utilizar oxigênio: Quanto mais grave é a situação, mais insumo a pessoa terá que utilizar, segundo especialistas.
Há alerta também para possível falta de usados na intubação de quem está em situação mais grave. Com o estoque dos hospitais em baixa, o Estado pediu apoio ao Ministério da Saúde. O Ministério Público e o Tribunal de Contas também recomendaram que o Governo tome providências para evitar a falta de oxigênio e garantir o atendimento.
Na Unidade de Pronto Atendimento de São José, na Grande Florianópolis, o estoque de oxigênio previsto para durar doze dias, em razão da alta demanda, foi consumido em quatro horas por pacientes que esperavam uma transferência.
“Nós estamos acompanhado e monitorado as últimas 24 horas, 48 horas. E a gente [percebe] que reduziu o número de pacientes que chegam com a sua saturação baixa e necessitando de oxigênio”, observou a Secretária de Saúde de São José, Simara Simioni.
No Hospital Regional de Biguaçu, na Grande Florianópolis, o alto consumo também tem preocupado a administração da unidade.
“Já teve uma conversa com a empresa que presta serviço para nós. Eles vinham uma vez a cada quinze dias, [agora] estão vindo uma vez por semana fazer o abastecimento de oxigênio”, disse o diretor do Hospital Regional de Biguaçu, Marcio Sottana.
Já o hospital Celso Ramos, em Florianópolis, fez a solicitação de novos cilindros no começo do ano. A administração da unidade enviou para o governo do estado na segunda-feira (21) um documento mostrando a preocupação da unidade com a quantidade de cilindros disponíveis, “diante do cenário que estamos acompanhando a falta de oxigênio (cilindros) em outras unidades hospitalares, já estamos considerando a nossa solicitação de incremento insuficiente, pois se continuar o aumento exponencial de pacientes internados com Covid-19 em nossa unidade, vislumbramos um possível colapso no atendimento de pacientes, acarretando o risco de óbitos caso não anteciparmos uma solução imediata”, diz o ofício.
Mesmo com o risco de desabastecimento descartado pelas empresas que comercializam o produto, alguns efeitos apareceram: A UPA de São José, teve que trocar uma válvula do sistema de gases, em função do uso excessivo.
Já o Hospital Florianópolis registrou “um superaquecimento no sistema de gases na última sexta-feira (19). Como medida de segurança, a empresa de manutenção vetou o aumento do número de leitos até que seja emitido um laudo técnico e realizados as substituições necessárias.”
Alta de 25% na Grande Florianópolis
Os hospitais e UPAs compram oxigênio de empresas privadas, que são responsáveis pelo reabastecimento dos tanques do sistema de gases ou pela troca dos cilindros. A principal empresa que fornece o insumo para os hospitais da Grande Florianópolis, informou para a equipe da NSC TV que nas últimas semanas, registrou um aumento de 25% no consumo do produto na região. Segundo a entidade, a Secretaria de Saúde foi avisada do aumento.
Créditos: Grupo NSC