Uma denúncia do Ministério Público de São Paulo revelou uma trama surpreendente envolvendo um juiz aposentado, acusado de manter uma identidade falsa por mais de quatro décadas. Segundo a Promotoria, o homem registrado como Edward Albert Lancelot Dodd Canterbury Caterham Wickfield, de 67 anos, é, na verdade, José Eduardo Franco dos Reis. Durante esse período, ele teria enganado instituições públicas, incluindo o Tribunal de Justiça de São Paulo, ao usar um nome fictício enquanto preservava sua identidade real. As motivações por trás dessa suposta vida dupla ainda não foram esclarecidas. O caso veio à tona em outubro de 2024, quando o magistrado tentou renovar seu RG com o nome falso em um Poupatempo na capital paulista, desencadeando uma investigação da Polícia Civil. Em 27 de fevereiro de 2025, a denúncia foi apresentada à 29ª Vara Criminal, e, no dia 31 de março, a Justiça aceitou o processo, tornando o juiz réu. O caso tramita sob sigilo judicial. A farsa teria começado em 1980, quando Reis obteve um RG como Edward Wickfield, declarando ser filho de supostos estrangeiros, Richard Lancelot e Anna Marie. Com esse documento, ele estudou Direito na USP, formou-se em 1992, passou no concurso para juiz em 1995 e construiu uma carreira notável, atuando em varas cíveis e assinando milhares de sentenças com o nome falso. Também coordenou o Núcleo Regional da Escola Paulista da Magistratura em Serra Negra, aposentando-se em 2018 sem despertar desconfianças. Para sustentar a fraude, apresentou documentos como certidão de nascimento forjada, dispensa militar, carteira do Ministério Público do Trabalho e título de eleitor, todos em nome de Wickfield — papéis que, na época, careciam de recursos antifraude. Uma matéria da Folha de S.Paulo de 1995 reforçou o personagem, descrevendo-o como descendente de nobres britânicos e neto de um juiz inglês, mas registros confirmam que ele nasceu em 1958, em Águas da Prata, filho de brasileiros chamados Vitalina e José. A Promotoria aponta três usos específicos de documentos falsos: em 2020, no Registro Nacional de Veículos; em 2021, no Detran; e em 2024, no Poupatempo, quando impressões digitais revelaram a verdade. O Ministério Público solicita a anulação dos documentos no nome falso, incluindo o CPF, além de medidas como entrega do passaporte e proibição de deixar a cidade. O caso expõe vulnerabilidades históricas no sistema de identificação e levanta questões sobre como uma fraude tão longa passou despercebida no Judiciário brasileiro.
Confira a programação da Semana Santa na Paróquia de Santa Cecília